sábado, 10 de outubro de 2009

A fatalidade da morte

Estórias do Além
A Fatalidade da Morte

No cartório de registros Morte Certa da cidade Celestina os escriturários Miguel e Baltazar recebem um memorando assinado pelo chefe Justino: "Favor preparar os registros de morte de João, Maria e Pedro a realizar-se na hora tal do dia tal... causa da morte: acidente de avião durante tempestade".

Muito responsáveis Miguel e Baltazar ligaram logo pro departamento de reencarnação Da Luz para saber quando os espíritos citados iriam reencarnar. Nossa! O João já tá pra nascer! Corre! Baltazar, verifica nos arquivos se vai chover no dia tal! Ah! Vai sim! Pode liberar a reencarnação! Ufa! Primeira etapa completada!

Maria e Pedro iriam nascer em outro ano... Ah! Beleza! Deixa pra depois então! O tempo passa... o tempo voa... Baltazar verfica pra mim, por favor, o que a gente tem pra hoje. Putz!!! A Maria tinha que reencarnar agora... a sua morte já está registrada! Acho que não vai dar mais tempo! Ish!!! Troca pelo Mário, então! Perfeito! Só precisei fazer um 'o' e pôr um acento... o seu Justino não vai nem notar... eheh!

Seu Justino pede para que Baltazar encaminhe uma solicitação pro departamento de segurança Anjos da Guarda pra garantir que esses espíritos não morram antes do tempo. Beleza, chefe! Eles me disseram que vão providenciar um espírito guardião pro João, dois pro Mário e uma duzia pro Pedro. O quê? Uma duzia? Pois é, o Pedrinho é muito arisco... é melhor prevenir do que remediar, né chefe!?! Tá bom!!!

Já tá chegando o dia... Baltazar e Miguel estão muito tensos... o João tá falando que tem medo de avião! Ish! Será que ele tá desconfiado??? Acho que vamos precisar de um reforço do esquadrão da morte Ou Vai Ou Racha... Então o comandante Napoleão determina que os seus subordinados Joel e Juliano usem todo o seu arsenal eflúvico para influenciar a decisão do João... nem que pra isso seja necessário apoderar-se da consciência do João. Mas... ah!...  o João é muito bonzinho... tá no papo!

Maravilha! O avião levanta vôo... agora só falta esperar pela tempestade. Humm... Miguel, será que vai chover!?! Não é possível! Esta chuvinha não vai dar pra nada... Chama logo o pessoal da estação meteorológica Faz Chover! Uau! Milhares de companheiros estão condensando as nuvens em cima do avião... que espetáculo! Agora eles não escapam! Caaaabraaam!!! O poderoso Thor atinge o avião com um ultra-mega raio e ... ... ... Plôft! ... Plôft!

Miguel, corre! Liga pra equipe de resgate Amparadores e fala que o avião já caiu! Baltazar desce até o local pra conferir se a missão foi cumprida... João... presente... Mário... presente... Pedrinho... presente... Zé... o quê? Zé?!? O qui ocê tá fazeno aqui Zé??? Também não sei... eu tava andando por aí e esse avião caiu em cima da minha cabeça. Ah! Eu tô te conhecendo! Você não é aquele que nasceu no lugar de outro?! Êita Zé! Mas que azar o seu, hein!?! Liga não... daqui há pouco eu dou um jeito de te encaixar de novo na fila de espera do departamento de reencarnação Da Luz.

E aí Baltazar!?! Como é que nós vamos explicar isto pro seu Justino? Miguel, veja bem... se o Zé não era pra ter nascido então não era pra ter morrido... precisamos ser coerentes, entende!?!

3 comentários:

  1. Concordo com o humor irônico do texto. Entendo que ele procura demonstrar a extrema complexidade que seria controlar um desencarne coletivo. Isso sem mencionar o fato de que o sistema geral ou as leis foram feitas por um Deus, logo perfeito, e devem funcionar sem necessitar interferências, respeitando o livre arbítrio.

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  2. Desencarnes coletivos para resgate de faltas do passado, a meu ver, é uma explicação que transforma a "causa primeira" em um deus contabilista e carrasco. Não acredito que dívidas sejam quitadas com mortes violentas. Prefiro admitir que sejam meros acidentes que sempre cumprem uma função pedagógica no processo evolutivo do Espírito.

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  3. Ops. O comentário acima é meu: Salomão Jacob Benchaya.

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