quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sim, sim! Não, não!

Estórias do Além
Sim, sim! Não, não!

João de Deus e Maria Auxiliadora são espíritas há muitos anos. Ambos se dedicam de corpo e alma aos estudos doutrinários como manda o figurino. E participam sempre quando podem de encontros, debates, associações ou simpósios espíritas.

Atualmente um dos temas mais discutidos é o das pesquisas com células embrionárias, juntamente com a fertilização in vitro e o aborto. Que legal! Hoje tem debate!

Tanto João de Deus como Maria Auxliadora pretendem expor suas idéias neste debate. Preparam-se pesquisando, sobretudo, o Livro dos Espíritos porque lá está o edifício doutrinário.

João de Deus constrói o seguinte texto para ser apresentado no debate:

Meus queridos irmãos! O Espiritismo é a doutrina do Amor e do respeito a vida. A união do espírito ao corpo é sempre predestinada e designada por Deus. Ora, Deus, que tudo sabe e vê, já antecipadamente sabia e vira que tal Espírito se uniria a tal corpo.

Quando uma criança tem que nascer vital, está predestinada sempre a ter uma alma. Nada se cria sem que à criação presida um desígnio. Deus é quem julga qual espírito é o mais capaz de desempenhar a missão a que a criança se destina. A união começa na concepção e desde este instante, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico. A união também é definitiva, no sentido de que outro Espírito não poderia substituir o que está designado para aquele corpo.

A partir do instante da concepção, começa o Espírito tomado de perturbação, que o adverte de que lhe soou o momento de começar nova existência corpórea. O Espírito só no instante supremo, quando chegou o momento predestinado, tem consciência de que vai reencarnar. Então, qual do homem em agonia, dele se apodera a perturbação.

Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando. Por que não respeitar as obras da criação, algumas vezes incompletas por vontade do Criador? Tudo ocorre segundo os seus desígnios e ninguém é chamado para ser juiz.

Maria Auxiliadora também faz o mesmo e constrói o seguinte texto:

Digníssimos companheiros da causa espírita! O Espiritismo é a doutrina do progresso e da valorização da vida. O mundo espírita é o mundo primitivo, preexistente e sobrevivente a tudo. O mundo corporal é secundário.

Os espíritos superiores são claros ao apontar qual seria a consequência para o espírito reencarnante que tivesse seu processo reencarnatório interrompido: simplesmente ele escolheria outro corpo. E a importância desta 'morte' é quase nenhuma.

O nascituro ainda não existe porque ele não tem uma vida espiritual. A vida intra-uterina é a da planta que vegeta. A união do espírito ao corpo só é completa por ocasião do nascimento. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ela se conta no número dos vivos. Até então o espírito ainda não está encarnado, mas apenas vinculado.

Como os laços que ao corpo o prendem são ainda muito fracos, facilmente se rompem e podem romper-se por vontade do Espírito. Vamos valorizar a vida! Deus está do lado do progresso!

Como era de se esperar houve muita polêmica com a apresentação destes dois textos no debate. Um texto é amplamente favorável as pesquisas com células embrionárias e o outro é totalmente contrário.

Mas, o que é isso? Os ânimos estão exaltados! João e Maria não conseguem se entender.

__ Eu sou um estudioso espírita há 10 anos!
__ Ah! E eu estudo as obras básicas todos os dias há 15!
__ Cê tá de brincadeira! O meu texto foi totalmente baseado no Livro dos Espíritos!
__ E você acha que o meu não?! A doutrina não foi feita para ser interpretada, mas ser entendida! Sim sim, não não!

E o jovem Pedrinho que acabara de entrar para o movimento espírita perguntou: se vocês dois estão certos então o que está errado?

4 comentários:

  1. E assim como João e Maria,quantos "formados" na doutrina espírita se acham conhecedores da filosofia??
    As casas espíritas, cheios de "Joões e Marias", achabam confundindo visitantes encarnados e desencarnados..rs rs
    Ótima crônica Amigo!

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  2. Vital, você mostrou o cerne da questão mais uma vez.
    Demonstra com este exemplo o quanto se trata (ou não) de um conhecimento científico. De que vale uma hipótese tão abrangente?
    Falar do desconhecido, sem o devido laço do já conhecido, é característica de uma hipótese supersticiosa. Infelizmente quande parte das hipóteses espíritas se enquadram nessa categoria.
    Qual a diferença desse "conhecimento" espírita para qualquer outra crença ou religião?
    Se fosse responder para o Pedrinho talvez diria que a formulação da hipótese está sob bases erradas... pelo menos para que a resposta sirva para algo além da crença e superstição...

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  3. Olá, Michelle!

    Realmente, a arrogância de certos espíritas é de desanimar! A vaidade, nestes casos, fala mais alto do que a humildade.

    Abraços, Vital!

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  4. Pois é, Luciano!

    Neste questão, em específico, não há uma delimitação clara o suficiente para estabelecer o que se propõe. Algumas proposições são até mesmo antagônicas, mas convivem juntas oferecendo ao leitor a possibilidade de interpretá-las de uma maneira ou de outra.

    De ambas as falas pode-se extrair a concordância na realidade da reencarnação. Porém, o seu processo ainda está por ser esclarecido... o Pedrinho precisa saber disto!

    Abraços, Vital.

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