terça-feira, 9 de março de 2010

O Novo Espiritualismo

História Espírita
O Novo Espiritualismo

Nas minhas viagens pelos mares da Internet encontrei um livro muito antigo, mas muito interessante. Foi escrito por um pastor americano, Hiram Mattison, em 1853, antes mesmo de Denizard Rivail ter seu primeiro contato com os fenômenos das mesas. O livro chama-se "Spirit-Rapping Unveiled! An expose of the Origin, History, Theology and Philosophy of certain alleged communications from the Spirit World" ou, em Português, "Revelada a comunicação por batidas! Uma exposição da Origem, História, Teologia e Filosofia das alegadas comunicações com o Mundo Espiritual".

Trata-se de um livro que tem o propósito de descontruir a idéia da possibilidade de comunicação com os espíritos. E independente de concordarmos ou não com o autor o fato é que ele traz um conjunto de informações que podem contribuir para a compreensão da história do Espiritismo.

Apenas folheando o livro você já se depara com idéias muito avançadas a respeito das comunicações e com um movimento organizado e numeroso. Até mesmo a palavra Espiritismo (Spiritism) já era empregada naquela época para designar a prática da comunicação com os espíritos. Um termo relativamente novo que Kardec preferiu adotar para a sua nova filosofia.

As formas de comunicação com o mundo espiritual também já se mostravam avançadas. E o autor, ainda que de forma desabonadora, apresenta várias delas, além daquela mais conhecida como spirit-rapping ou comunicação por batidas. Vejam, por exemplo, como ele retrata a psicografia num desenho que está na página 62.


Nesta ilustração o médium se encontra lendo um livro sem prestar atenção no processo de comunicação enquanto o espírito (na forma de uma sombra "voando") apoia sua mão sobre a mão do médium. É interessante observar também que o médium se encontra sozinho em sua residência (e não usualmente numa sessão) e em sua biblioteca encontram-se clássicos deste novo movimento como o "Great Harmonia" de Andrew Jackson Davis.

Descreve ainda outras formas de comunicação como a psicofonia e a intuição (chamada pelo autor de Spiritual Impression Process). Vejam na ilustração abaixo como o espírito mau é representado pelo diabo e fica apenas cochichando no ouvido do médium.


A nova filosofia espiritualista também já ganhava um corpo teórico consistente e, segundo o autor, próximo a um chamado movimento universalista. No capítulo IX o autor enumera uma lista de idéias desta nova filosofia. Entre elas estão várias que vão contra as idéias religiosas como:

as estórias do pecado original e da queda do homem são falsas,
o homem evolui por si próprio,
Jesus não deve ser comparado a Deus,
Jesus não é o salvador dos nossos pecados,
não há milagres,
a Bíblia não é a palavra de Deus e está cheia de erros,
não há demônios e nem inferno,
não há ressureição dos mortos e nem o juízo final.

Enfim, é um material muito rico e que demonstra como os americanos já estavam avançados em matéria de comunicação com os espíritos e que também estava avançada a crítica a este novo movimento espiritualista.

6 comentários:

  1. Amigo Vital!
    Excelente oportunidade a sua em ler algo tãoantigo, que mesmo tentando não apoar os ideais espíritas, acabou de econtro com a filosofia proposta por Jesus.!
    Isos mostra que o autor,embora algumas vezes infeliz em sua escrita, caminhou com raciocício lógico que a doutrina espírita acata com respeito!
    A lista de ideias da filosofia proposta pelo autor, é recheada do mais puro espuritismo...
    Parabéns!

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  2. Vital,

    Parabéns pelo seu resgate, é mais uma peça na reconstrução da trajetória do Espiritismo.

    Quanto à criação ou adoção do termo por Kardec, penso que se ele não leu o livro que você acessou, logo ele não adotou o termo Espiritismo, mas o estava criando (ou pelo menos acreditava nisto, o que fica claro na famosa frase do Mestre Lionês "para ideias novas palavras novas".

    Os espiritualistas norte-americanos e ingleses identificavam-se como modern spiritualism, e Kardec escreveu a distinção entre Espiritualismo e Espiritismo, possivelmente criticando a adoção do primeiro termo pelo movimento anglo-saxão. Eu escrevi sobre isto na biografia de Alfred Russel Wallace em "O Aspecto Científico do Sobrenatural".

    Um abraço

    Jáder

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  3. Obrigado pela apreciação, Jáder!

    Kardec deixa muito claro mesmo a diferença entre as duas palavras: espiritismo e espiritualismo. Mas, de qualquer forma, Kardec sabendo ou não da palavra espiritismo, esta era uma palavra nova, no sentido de que era pouco usada. Veja que Kardec não disse que criou a palavra espiritismo, mas somente que era uma palavra nova.

    Abraço!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Vital,

    Muito interessante o seu achado. Nem suspeitava que o termo poderia ter sido usado antes. Achei tão curioso isso que resolvi fazer outras buscas e encontrei um outro texto (de 1855 e outros em 1854), que também usa o termo "spiritism" antes de Kardec. Nesse caso ele aparece num diálogo entre o cético e um espiritualista (parece familiar?). Lembrei, evidentemente, de "O que é o espiritismo?"... Será que era um recurso comum nos diálogos, usar a figura do cético?

    Está no livro (o termo aparece 3 vezes):
    Título - The sacred circle, Volume 1
    Autor - Harry Houdini Collection (Library of Congress)
    EditoraPartridge & Brittan, 1855

    http://books.google.com.br/books?id=qrkRAAAAYAAJ&q=spiritism#v=snippet&q=spiritism&f=false

    Nesse outro livro ele também volta a aparecer (9 vezes):
    Título - The Apocatastasis; or Progress
    Backwards. Publicado1854
    Original deUniversidade de Michigan
    http://books.google.com.br/books?id=BnTcQDHEeQAC&q=spiritisme#v=onepage&q=spiritism&f=false

    Esse, uma única vez e publicado na Inglaterra
    Título - The spirit-rapper: an autobiography
    Autor - Orestes Augustus Brownson
    EditoraLittle, Brown, 1854
    http://books.google.com.br/books?id=VxEMAAAAIAAJ&q=spiritism#v=snippet&q=spiritism&f=false

    Não terminei as buscas, mas creio que devam haver algumas mais referencias.

    Abraço.

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  6. Que legal, Tiago!

    Realmente, o diálogo com o cético é muito familiar... é uma boa hipótese a ser investigada esta de que seja um recurso comum da época.

    O conteúdo do segundo link me pareceu muito interessante também. Fala sobre a conexão entre um espiritismo antigo e o novo.

    Obrigado!

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